Storytailors fecha ateliê e diz adeus a 20 anos de história

_H5C0450A.jpg
Apresentação da coleção da dupla Storytailors em Paris, em 2010 [Fotografia: Global Imagens]

A icónica loja e ateliê da marca Storytailors fecha portas e, com ela, também a marca criativa tal como ficou conhecida. Luís Sanchez revela que a casa que vestiu inúmeras celebridades, que se tornou uma imagem de marca da moda portuguesa e com projeção lá fora, está de saída do ateliê da Calçada do Ferragial, em Lisboa, não seguirá mais como foi conhecida.

“Tinha decidido encerrar a loja no final de março deste ano, mas veio a covid-19 e alterou todos os projetos. Esses meses não foram fáceis, nem beneficiaram a estrutura da empresa, mas decidi dar mais uma oportunidade e continuar o que estava delineado antes. Mas agora estamos de saída”, revela o criador Luís Sanchez ao Delas.pt

A dupla Storytailors, Luís Sanchez e João Branco, em 2009, no Portugal Fashion [Fotografia: Sérgio Queirós/Global Imagens]
A dupla Storytailors, Luís Sanchez e João Branco, em 2009, no Portugal Fashion [Fotografia: Sérgio Queirós/Global Imagens]

Fundada em 2001 por aquele designer e por João Branco – que viria a morrer inesperadamente em dezembro de 2018 – uma das mais emblemáticas casas criativas nacionais diz adeus a duas décadas de história de glamour e de projeção. “Fecha o ateliê, mas vai continuar o conceito. Eu e o João tínhamos um trabalho muito complementar que sozinho era complicado para mim assegurar. Fiquei a gerir a empresa e, no final do ano, decidi que iria deixar a marca”, explica.

Sobre o futuro, Sanchez revela que teve “propostas para colocar roupas em loja multimarca”, mas considerou que “esse poderia não ser o caminho”. Apesar de encerrado este capítulo, o conceito prossegue, mas a uma só voz e a título extraordinário: “Acabo por responder a pedidos por encomenda que os clientes assíduos, de 20 anos, acabam por fazer”.

Em ponderação e cuidada análise está, conta Sanchez, a decisão sobre o que fazer com todo o espólio concebido pela dupla que trouxe as histórias de encantar, os espartilhos e a alfaiataria ao topo da produção da moda nacional.

[Fotografia: Nuno Alegria/Global Imagens]
[Fotografia: Nuno Alegria/Global Imagens]

Recorde-se que, para lá de celebridades, a dupla assinou a imagem de projetos musiciais como The Gift, Amália Hoje, Mísia e Yolanda Soares, tendo também trabalhado em figurinismo o Teatro Nacional D. Maria II e para o Teatro Nacional de São João.

Luís Sanchez está agora noutro caminho, uma rota que tinha inclusivamente sido conversada e delineada com João Branco, antes de se designer ter posto fim à vida, numa notícia que abalou profundamente o universo da moda nacional.

“Há dois anos, sentimos a necessidade de criar algo novo ao fim de 18 anos de existência, um novo olhar, uma nova perspetiva. Fomos mais ou menos amadurecendo umas ideias gerais e, nesse verão, já tínhamos definido as linhas do que iríamos seguir em 2019, em que consistiria esse novo projeto, mas acabou por não ser assim”, recorda o designer.

[Fotografia: Global Imagens]
[Fotografia: Global Imagens]

Agora, revela que segue a solo para esse projeto, mas sobre o qual não revela detalhes para já por estar a ultimar formalizações.

De saída, mas na luta por uma Ordem dos designers nacionais

A Storytailors é um dos subscritores do movimento que pretende criar um estatuto e uma Ordem para os criadores de moda nacionais, e que tem como porta-voz a designer Katty Xiomara. Um documento que, tal como o Delas.pt publicou, já seguiu para o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e para o primeiro-ministro, António Costa.

Mesmo na hora do fecho da loja e ateliê e o fim da marca como foi conhecida até aqui, Luís Sanchez conta que se juntou à petição pelos Storytailors porque o tempo é de união e “não fazia sentido fazê-lo em nome individual”.

“Decidi juntar-me a este movimento porque a questão que foi levantada é muito pertinente, precisamos de nos unir e isso tem acontecido. As pessoas vivem muito voltadas para si, não se trabalha enquanto conjunto, um todo, e é preciso fazê-lo”, justifica.

“Juntei-me a esse projeto na altura do confinamento e faz todo o sentido estar ligado a ele”, revela o designer. Trata-se, concluiu, de uma “ajuda entre todos os designers, um movimento que procura defender os nossos interesses e direitos e vai permitir trabalhar em conjunto com as associações e semanas de moda que já existem. Estamos mais unidos, mais próximos”.