Teste de gravidez deformou e matou milhares de bebés

O Primodos, um teste de gravidez hormonal tomado por mulheres no Reino Unido nas décadas de 1960 e 1970, terá deformado e até provocado a morte a milhares de bebés. Esta realidade chocante é explicada ao pormenor, esta terça-feira, numa reportagem emitida pelo canal de televisão britânico Sky Atlantic. Os telespetadores vão poder ver, numa investigação levada a cabo pela Sky News durante os últimos seis anos, como grande parte da informação relativamente a este caso foi destruída e escondida durante tanto tempo.

Na altura, ao tomarem o medicamento, as mulheres pensavam que, caso estivessem grávidas, o organismo ia simplesmente absorver as substâncias do Primodos. Se, pelo contrário, a gravidez não se confirmasse, o teste apenas obrigaria o corpo a menstruar-se. Hoje, depois de várias investigações, está cientificamente provado que uma única dose de Primodos equivale a 13 pílulas do dia seguinte e a 40 contracetivos orais. Segundo a Sky News, que já disponibilizou parte da reportagem online, 1,5 milhões de mulheres no Reino Unido chegaram a tomar o medicamento alemão.

O investigador Jason Farrell analisou o fenómeno na altura e concluiu que entre as mulheres que tomaram o Primodos vários milhares abortaram ou foram mães de bebés com membros amputados e danos cerebrais, entre outros problemas de saúde. O britânico faz até referência a um estudo anterior, realizado em 1975 pelo médico William Inman e guardado nos Arquivos Nacionais de Berlim, na Alemanha, que já alertava para o facto de as mulheres que se submetiam a este teste de gravidez terem cinco vezes mais probabilidade de dar à luz crianças com deficiências.


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De acordo com a reportagem do canal de televisão britânico, o médico mostrou os dados do estudo à Schering, a farmacêutica alemã que produzia o teste de gravidez hormonal, mas a empresa fez questão de não divulgar a informação comprometedora. Atualmente esta farmacêutica alemã pertence à Bayer que, confrontada com estes dados, afirmou que as provas que ligam o Primodos aos milhares de bebés que nasceram deformados na altura são “extremamente fracas”.

Mães continuam a lutar para que se faça justiça

Há 47 anos, Marie Lyon suspeitou estar grávida do primeiro filho e foi ao médico de família que, por sua vez, lhe prescreveu Primodos. Foi à farmácia e recebeu uma caixa verde com dois comprimidos pequenos. O especialista aconselhou-a a tomar um. Caso não ficasse menstruada, teria de tomar o segundo, 12 horas depois.

Quando deu à luz a filha Sarah, as enfermeiras disseram-lhe que a bebé só tinha metade dos braços. Assim que associou as malformações da filha ao medicamento alemão quis investigar o caso, mas foi impedida.

“Fomos informados de que se quiséssemos prosseguir com o caso teríamos de hipotecar as nossas casas. Foi tão chocante como isto”, explicou Marie Lyon, atual presidente da Associação para Crianças Vítimas de Testes de Gravidez Hormonais, à Sky News.