“Calaram a Marielle, mas não nos vão calar a nós”, diz o pai da vereadora assassinada

Esta quinta-feira, 14 de março, cumpre-se um ano do brutal assassinato da vereadora brasileira Marielle Franco. E numa altura em que foram detidos os dois presumíveis autores do crime, antigos polícias, que teve lugar há um ano, aperta-se o cerco entre este desaparecimento brutal de uma voz incómoda contra o regime e o seu motorista, Anderson Gomes.

Na verdade, um dos antigos militares, o sargento reformado Ronnie Lessa, de 48 anos, foi preso na tarde de terça-feira, 12 de março, a sair de casa, no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca e no qual reside também o chefe de Estado brasileiro, Jair Bolsonaro.

O presidente do Brasil diz estar interessado em saber todos os detalhes deste crime. Declarações proferidas numa altura em que o chefe de Estado surgiu numa fotografia antiga ao lado de um dos ex-policiais detidos.

Sobre isto, o presidente defendeu-se, dizendo: “Tenho foto com milhares de policiais civis e militares, com milhares no Brasil todo”. Ainda citado pelo site G1, Jair Bolsonaro diz que “é possível que [o crime] tenha um mandante”. E prossegue: “Conheci Marielle depois que ela foi assassinada. Não a conhecia, apesar de ela ser vereadora lá com meu filho no Rio de Janeiro. E também estou interessado em saber quem me mandou matar“, afirmou.

Segundo adiantou o Ministério Público brasileiro, Lessa estaria a sair de casa depois de ter sido informado que a sua detenção estaria iminente. O segundo suspeito é Élcio Vieira Queiroz, 46 anos também ele ex-polícia.

Embora a família da segunda vereadora mais votada no Rio de Janeiro, em 2016, aplauda as detenções, lembra que ainda tudo está por apurar e que é importante encontrar o mandante deste assassinato. “Não conseguirão calar quem defende o seu legado”, afirmou Antonio Francisco da Silva, pai de Marielle, que declarou que a “angústia” diminuiu após a prisão de dois suspeitos do homicídio, mas sublinhou que não consegue entender as motivações do crime.

“Com a prisão dos dois suspeitos diminui um pouco a nossa angústia. Sempre me perguntei o que é que ela fez para merecer tamanha injustiça. Se ela era uma defensora dos direitos humanos, ela não estava a cometer nenhum crime. Com a prisão desses indivíduos, é muito difícil para mim entender esse motivo. Eu nunca encontrei nenhum motivo para que a minha filha fosse assassinada”, frisou o pai de Marielle.

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Antonio afirmou ainda que aguarda a condenação dos dois suspeitos, o polícia militar reformado Ronnie Lessa, de 48 anos, e o ex-polícia militar Élcio Vieira de Queiroz, de 46 anos, e espera que se encontre “quem encomendou o assassinato, se é que foi encomendado”.

Na mesma conferência de imprensa, Anielle Franco, irmã de Marielle, reiterou a vontade de encontrar as pessoas que terão ordenado a morte da vereadora. “Ainda temos muito que avaliar. É uma mistura de sentimentos. Foi um passo grande dado. Esperamos que se consiga descobrir quem ordenou [o assassinato]. É um vazio muito grande que sentimos, só nós sabemos aquilo que estamos passar”, referiu.

Marielle Franco, vereadora no Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e defensora dos direitos humanos, foi assassinada na noite de 14 de março de 2018, quando viajava de carro pelo centro do Rio de Janeiro, depois de participar num ato político com mulheres negras.

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“É incontestável que Marielle Francisco da Silva foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia“, afirma a denúncia do homicídio, citada hoje pelo G1, acrescentando que “a barbárie praticada na noite de 14 de março do ano passado foi um golpe ao estado democrático de direito”.

CB com Lusa

Imagem de destaque: DR

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