O alerta vem de O Ninho, associação que há décadas trabalha com a população vulnerável da prostiutuição. “O Covid 19 só vem reforçar a miséria e as dificuldades de todos os dias”, refere Isabel Xavier, vice-presidente da entidade ao Delas.pt.
A responsável reitera ao nosso site que “o que de momento preocupa O Ninho é o facto de saber que a maioria das pessoas que se prostituem provêm de famílias muito carenciadas e das franjas mais frágeis da nossa população”. Por isso, alerta, “a crise que se adivinha, com toda a certeza, colocará mais pessoas em situação de pobreza e por isso mais frágeis e passíveis de serem angariadas para a prática de prostituição”.
Declarações que surgem após alertas e notícias que têm vindo a dar conta de que a atividade se mantém, mesmo em tempo de confinamento decretado pelo Estado de Emergência, com maior propensão para comportamentos de risco e em casa. Uma situação que se agrava devido devido à escassez de rendimentos.
A associação revela que não tem identificado flutuações nos pedidos da ajuda face ao que existia antes da pandemia pelo novo Coronavírus. “O Ninho é abordado regularmente e agora não existe qualquer diferença para apoiar pessoas em graves dificuldades financeiras, com despesas elevadas e baixos rendimentos”, confirma Isabel Xavier.
“A realidade do Covid-19 – doença infecciosa – não é, infelizmente, uma novidade no meio prostitucional”, alerta a presidente, olhando para a História e evocando “muitas doenças sexualmente transmissíveis que geraram, ao longo de séculos, medos e receios nomeadamente a sífilis e a sida”. “Infelizmente”, lamenta, “nenhuma delas fez reduzir a procura de clientes ou criou a consciência de que devemos combater o proxenetismo organizado e as causas da prostituição”.
Recorde-se que, como lembra a vice-presidente, “desde que esta pandemia foi identificada “O Ninho” deu início ao seu plano de contingência pelo que retirou as suas equipas do trabalho de rua estando a fazer contactos apenas por telefone e email ou presencialmente se necessário, apoiar com géneros, medicamentos ou até acompanhamentos a centros de saúde, médicos ou outros”.
Sobre a prostituição de rua e eventual crescimento, a vice-presidente esclarece que “o controlo de cidadãos na rua cabe às forças de segurança pelo que O Ninho não tem dados que lhe permita responder à questão”. Porém, Isabel Xavier vinca que “é natural que a exigência de permanecer em casa venha reforçar a prostituição em casa fechada, o que dificulta ainda mais os contactos de entidades externas. Este era, aliás, um dos alertas deixados na semana passada pelas associações que acompanham esta realidade.
A responsável lembra que “o sistema de saúde português e a proteção social permite a todos o direito e o acesso à saúde a médico de família e a um tratamento digno independentemente de ter ou não efetuado descontos para a segurança social”. Vinca por isso, ressalvando, que “todas as pessoas prostituídas como todas as pessoas em situação de fragilidade têm acesso aos subsídios legais (infelizmente tão poucos) previstos na lei para proteger os mais frágeis ou que se encontram temporariamente em situação de fragilidade”. Isabel Xavier lembra ainda que “as pessoas que se prostituem, se em situação de vulnerabilidade, poderão recorrer aos mesmos locais que todos os outros cidadãos como, entre outros, Instituições Particulares de Solidariedade Social, Bancos alimentares”.