É um dos produtos menstruais que começa a ganhar protagonismo no universo feminino seja pela questão utilitária, seja pelo lado ecológico, evitando o uso de produtos descartáveis.
Já há lojas de mass market multinacionais e marcas lusas a investir neste tipo de produtos da recolha do fluxo, a produzir localmente, mas as dúvidas ainda permanecem seja pelo tipo de materiais utilizados, seja pelos cuidados que requerem, seja ainda pelas vantagens e desvantagens que possam oferecer.
Ao Delas.pt, a educadora menstrual e de fertilidade Patrícia Lemos traça o perfil destas novas soluções, que estão longe de ser acessíveis a todas a carteiras, e explica o que é ainda importante ser feito: a clareza e transparência nos materiais usados.
Um olhar ao detalhe traçado na véspera do Dia Internacional da Higiene e Saúde Menstrual, que se assinala esta sexta-feira, 28 de maio.
Conforto e segurança:
“As principais preocupações prendem-se com o conforto e a segurança. A ideia de que a cueca não será confortável para usar durante todo o dia, seja pela ideia que funciona como fralda ou pela humidade que pode acumular-se ou até que ponto uma cueca pode fazer a gestão do fluxo menstrual são preocupações obviamente legítimas.”
Duração:
“As marcas costumam informar, mas as cuecas têm cerca de dois anos de absorção garantida, cerca de 30 a 40 lavagens, o que equivale muitas vezes aos tais dois anos. No final desse tempo, essa cueca não precisa de ser mandada fora. Pode ser usada como uma cueca normal em qualquer dia do mês.”
Manutenção:
“Exige algum cuidado, afinal é como se estivéssemos a falar de uma peça de roupa mais delicada ou de seda, por exemplo. Para que o sangue não ‘coza’, é preciso passar as cuecas, primeiro, por água fria antes de serem mesmo lavadas. Não podem ir a ciclos a mais de 30 graus nem com amaciador. Ora, tal levanta algumas questões junto de quem não quer ter de lidar com a questão do sangue. As miúdas mais novas têm alguma dificuldade em olhar para esta logística e acabam por ter mais dificuldade.”
Preço:
“É uma solução muito lógica, é um produto reutilizável, tem um período de utilização muito interessante, que pode ser de dois anos, e consegue-se ter um preço diluído aceitável. Vamos esperar que haja evolução no mercado para que as cuecas possam ser usadas de forma mais imediata, testadas e permitir uma escolha sobre qual o modelo e a marca de que mais se gosta, e não ficar apenas confinada a uma só.”
Polémicas, transparência e clareza:
“A primeira marca de cucas menstruais surgiu há cerca de seis anos, nos Estados Unidos da América. Talvez há um ano e meio, descobriu-se que havia ingredientes tóxicos na sua composição. Precisamos de política de transparência nos nossos produtos de recolha menstrual. Enquanto consumidores, em Portugal, estamos a anos-luz de fazer exigências nestes casos, sobretudo nos produtos menstruais. Mas é necessária uma política de clareza e transparência exige-se para o bem de todos.”
Diferenças e detalhes a merecer atenção:
“As cuecas menstruais não são todas iguais nem em modelo, nem em grau de absorção e variam de marca par marca. O que temos de fazer é identificar qual o fluxo típico, quantos pensos e tampões são usados por cada qual no primeiro, segundo, terceiro e quartos dia e fazer a equivalência à cueca ou ao modelo que se necessita. Se a cueca absorve o equivalente a três, quatro tampões ou a menos tal permite fazer depois a equivalência, ajudando a compor um pack menstrual adaptado a cada caso. Uma das desvantagens é que, como as marcas não são todas iguais e oferecerem diferenças de material ou mesmo de modelo, pode fazer sentido experimentar uma cueca de mais marcas. Não estamos a falar de um produto que esteja acessível a todas carteiras. Quero, espero e acredito que a própria dinâmica de mercado com mais gente a aderir, com o surgimento de mais marcas, possa nivelar um pouco os valores de forma a quem fiquem mais acessíveis.”
Fluxos abundantes:
“Se escolhermos as cuecas de forma adequada ao fluxo, as preocupações da absorção, conforto e humidade ficam ultrapassadas. Temos de perceber que pessoas com fluxos muito abundantes que não conseguem encontrar equivalência para o grau de absorção necessários, podem usar as cuecas como método extra, para evitar fugas e acidentes com manchas de sangue. Esta não será a solução mais adequada a solo.”
Normalização:
“O maior potencial que o produto apresenta passa pela possibilidade de normalizarmos os dias de período ao ponto de se transformarem em dias como outros quaisquer, o que tem influência até na escolha de vestuário que é feita para esses dias. Este potencial de normalização dos dias menstruais, sobretudo junto do público adolescente – que tem sempre dificuldade na gestão da recolha e nos primeiros anos menstruais -, creio que pode ser uma grande ajuda.”
