Jovens com “visão romântica da relação sexual ainda confundem o não uso de preservativo com uma questão de fidelidade e de confiança”

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[Fotografia: pexels/Oleksandr P]

“Tem de haver um apelo à importância da notificação para as pessoas perceberem que é um bem para a comunidade”, afirma a presidente da Sociedade Portuguesa de Contraceção, Fátima Palma à Delas.pt. Esta sexta-feira, 8 de março, o Jornal de Notícias avança que a DGS pondera pôr fim ao anonimato nas doenças sexualmente transmissíveis (DST) para conseguir travar contágios, uma possibilidade que surge dias depois de terem sido revelados subidas elevadíssimas em DSTs como a Gonorreia – que cresceu mais de 80% -, a clamídia, a sífilis e o VIH.

“É preciso incentivar para que haja notificações e com o consentimento da pessoa”, insiste a mesma responsável, crendo que tal medida leve a que “as pessoas possam ser contactadas para revelarem os seus parceiros”, à semelhança do que aconteceu com a covid-19 [sem divulgação pública, apenas para mapeamento de ligações] e para que se possa, então, atuar em tempo. E lamenta: “Não temos um rastreio e batemo-nos por ele há alguns anos. Já foi estabelecida uma parceria com DGS e acabou por não sair nenhum documento oficial.”

Para tal, Fátima Palma considera ser imperativo tornar os resultados dos métodos de rastreio das infeções disponíveis para serem pedidos pelos médicos dos centros de Saúde e alargando comparticipações. Gratuitas nos centros de atendimento especializados, a verdade é que o teste da clamídia ainda não é comparticipado no sistema geral.

Recorde-se que os últimos relatórios epidemiológicos anuais do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) revelam que doenças como gonorreia, clamídia e sífilis dispararam em Portugal, e na Europa, afetando sobretudo jovens dos 20 aos 24 anos.

Em território nacional, a notificação de casos de gonorreia quase duplicou, aumentando de 1.252 em 2021 para 2.253 em 2022.

“O ano de 2022 marca o maior número de casos de gonorreia na UE/EEE na última década e desde o início da vigilância europeia de IST [infeções sexualmente transmissíveis] em 2009”, alerta a ECDC.

Nos relatórios divulgados, a maioria (25/28) dos países regista aumentos em 2022 na notificação de gonorreia, mas os países com crescimentos superiores a 50% foram Portugal, Espanha Bulgária, Chipre, Estónia, Finlândia, Irlanda, Itália, Letónia, Liechtenstein, Noruega e Polónia.

Também a notificação de casos de clamídia subiu em Portugal, de 914 casos em 2021 para 1.501 casos em 2022, e em 27 países da UE/EEE foram notificados 216.508 casos confirmados de infeção por clamídia em 2022, com uma taxa bruta de notificação de 88 casos por 100.000 habitantes, mais 16% do que a taxa de 2021.

A maioria destas notificações de clamídia refere-se a mulheres com idades entre os 20 e os 24 anos, apesar de, entre 2018 e 2022, o número de casos de clamídia notificados como transmissão entre homens que fazem sexo com homens (HSH) aumentar 72%.

Atuar junto dos mais novos

A única forma de prevenção continua a recair no uso de preservativos masculinos e femininos. Para Fátima Palma é preciso atuar junto “dos adolescentes, que têm uma visão romântica da relação sexual e ainda confundem o não uso de preservativo com uma questão de fidelidade e de confiança”. Para a responsável, há uma “grande falta de informação junto dos grupos etários mais jovens” e estes também vão menos ao médico, dificultando depois a prevenção.

Para a presidente da Sociedade Portuguesa de Contraceção, é preciso notar que este aumento de DSTs pode também estar ligada a uma maior notificação. “Da parte dos médicos há uma maior sensibilização, havia pouca notificação destas doenças que eram obrigatórias”. Porém, pede atenção à sífilis: “Temos de aumentar a consciencialização”.