Fara Nassarpour: Marcas portuguesas têm de “chegar mais cedo” às semanas de moda

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Fara Nassarpour, diretora Spring UP, empresa de distribuição internacional de marcas de designers emergentes, esteve agenciar as vendas dos designers portugueses, na última Semana da Moda de Milão, que se realizou de 21 a 26 de setembro. Carla Pontes, Katty Xiomara, Luís Buchinho, Pé de Chumbo e Pedro Pedro foram os designers nacionais que marcaram presença no showroom da White Milano, com o apoio do Portugal Fashion. O mercado asiático é, de momento, o mais interessado na moda nacional e um dos mais economicamente seguros para os designers, sobretudo os que estão a começar, diz em entrevista ao Delas.pt. A agente de vendas de origem iraniana, que cresceu no Reino Unido, tem, atualmente, a sua base em Milão. Com uma experiência de mais de 15 anos no negócio da moda, Fara Nassarpour tece elogios à mistura entre criatividade e capacidade comercial das marcas portuguesas e não tem dúvida que estas conquistariam mais mercado se acertassem o compasso com os timings dos compradores internacionais.

Qual é a sua avaliação sobre o estado atual da moda portuguesa?
Estou realmente impressionada com a moda de Portugal porque acho que os designers são muito inovadores, a qualidade do produto é excelente, há muita pesquisa. Não são como os designers britânicos, que são muito inovadores mas não são vendáveis. Os portugueses são criativos mas comerciáveis.

Para que mercados é que vendem mais as criações dos designers portugueses?
Para ser honesta, nesta fase concentro-me no mercado do extremo oriente, que inclui a China, Japão e a Coreia do Sul. Não por ser o único mercado com o qual quero trabalhar, mas por ser um mercado mais aberto a novos investimentos, porque o mercado europeu precisa de seguir o comboio. Se se tornar grande, o mercado europeu apanha esse comboio, se não for grande, espera. O chinês não. Se o chinês vê algo que gosta – claro que temos de ter muita atenção aso diferentes tipos de clientes. Mas se é algo de que gostam eles encomendam, pagam a tempo, são confiáveis e conseguimos trabalhar bem com eles. Também trabalhamos com o Médio Oriente e com a Rússia. Na Europa trabalhamos menos, mas pelas razões que expliquei e também porque é muito difícil para os jovens designers trabalharem com os métodos de pagamento europeus. Com os clientes internacionais temos 30% de pagamento adiantado, o que garante alguma segurança aos designers. Com as lojas europeias não, elas pagam a 30, 60 dias depois da entrega das encomendas, o que é arriscado para os designers. Porque trabalhamos com jovens designers, escolhemos selecionar os países que sabemos que vão responder melhor.

Dentro desses mercados, como é a distribuição das vendas? Que designers vendem para onde?
As marcas que temos neste showroom eu só trabalho no âmbito da White Milan. O Carlos Gil eu trabalho no meu showroom. A Katty Xiomara, por exemplo, é muito exótica e pode vender em Xangai, Pequim, porque há muitas peças que vão do muito simples ao muito elaborado, por isso tem mais flexibilidade nesses mercados. Por isso quando vejo uma marca para o meu showroom, tenho de saber se os meus clientes também a vão apreciar. Já na White o objetivo não é atingir um só mercado, é atingir a passagem internacional para estar na White, por onde passam compradores de todo o mundo. O Luís Buchinho é outro designer que também é muito versátil, tem muitas peças e pode ir para muitos mercados. Por exemplo, uma senhora estava a ver um vestido dele que parece cafetã, que no Médio Oriente cobre o corpo da mulher. É uma peça que se adapta-se a diferentes mercados. Depois ele tem peças mais estruturadas que podem ser vendidas na Ásia, Europa. É fácil de trabalhar. O problema é que quando se tem muitas peças, o cliente pode ver uma ou duas peças que lhe agradam, mas o que acontece se essas peças são as únicas da coleção? Tem de se pensar em que é o cliente e qual o mercado, mas há flexibilidade.

Que resultados espera deste showroom de criadores portugueses?
Tento não ter muitas expectativas em relação a nenhum salão, não apenas ao White. Porque penso que o mercado está a mudar muito e penso que a forma das pessoas experienciarem esse tipo de exposição comercial é muito diferente. Acho que é muito importante os designers estarem aqui, por causa da visibilidade que dá às suas marcas. Infelizmente quando se mostram coleções pela primeira vez, tão tarde na estação – porque mesmo decorrendo em paralelo com a Semana da Moda de Milão, a estação começou em junho com as pré-coleções – os grandes orçamentos já foram alocados. Portanto, se se chegar mais tarde, que é muitas vezes o problemas das marcas portuguesas, perde-se a maior parte dos orçamentos disponíveis no mercado. Seria desejável que eles conseguissem acompanhar a tendência e tivessem as coleções disponíveis mais cedo. Alguns têm, mas infelizmente esperam pela Semana da Moda de Milão para estarem aqui e isso muitas vezes é demasiado tarde. Há muitos clientes a passar, mas também a perguntar se podem obter mais informações ou se podem voltar. Alguns tiveram notas de encomenda e estamos muito satisfeitos com isso, mas podia ter havido mais se tivesse havido uma pré-programação, se tivéssemos mais material para trabalhar mais cedo.

E isso é quanto tempo?
Nós recebemos os catálogos duas semanas antes. Não é uma antecedência suficiente para nós.

Portanto, o conselho para o próximo ano é chegar mais cedo.
Chegar mais cedo ou, pelo menos, garantir o máximo de informação com antecedência e tentar ficar em Milão por mais alguns dias depois das feiras. Porque muitos dos clientes perguntam se podem vir depois da Semana da Moda e nós temos de dizer que não, porque a seguir vão para Paris. O White é muito curto.

 

Fotografia: Portugal Fashion/DR