Fernanda Serrano: “Não me consigo imaginar novamente casada com alguém”

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Fernanda Serrano [Fotografia: Álvaro Isidoro / Global Imagens]

A separação de Pedro Miguel Ramos é um dos tópicos longamente abordados no novo livro da atriz Fernanda Serrano, que é apresentado esta semana, na mesma ocasião em que o rosto da TVI se prepara para celebrar 50 anos.

Não Há Vidas Perfeitas, da editora Oficina do Livro, detalha o momento em que Fernanda se quis divorciar, os cinco anos de consolidação da decisão e de não aceitação da decisão por parte do então marido, o processo ‘traumático’ e a forma como se perspetiva no amor, no futuro. “Fiquei profundamente traumatizada com o divórcio e ainda hoje não me consigo imaginar novamente casada com alguém. Não é que tenha deixado de acreditar no amor, mas isso não impede que as ruturas aconteçam”, afirma, revelando que está focada “no crescimento dos filhos” e na orientação para as “vidas profissionais”.

Numa altura que se fala em eventual reconciliação entre Fernanda Serrano e Pedro Miguel Ramos, ela não a nega, mas não da mesma maneira nem com os mesmos contornos como tem sido noticiada. “Seja como for, não perdemos o norte da família, nem a força ou a vontade de seguir em frente. Isso tenho a certeza de que conseguiremos manter. Eu e o Pedro, a nossa família unida”, lê-se no livro. Uma aproximação após tempos difíceis e que foi impulsionada pela adolescência dos três filhos mais velhos: Santiago, Laura e Maria Luísa. “Esta fase de adolescência em que estão os meus três filhos mais velhos, não é nada fácil. E aí, sim, sinto-me muito sozinha. Acho que é a única coisa em que me sinto só – na gestão de três adolescentes – pois é difícil, mesmo quando os pais estão juntos. É uma altura da vida dos filhos em que, na verdade, precisamos de alguém ao nosso lado, alguém que partilhe os mesmos valores que nós. A verdade é que esta dificuldade nos aproximou novamente, aos pais dos nossos filhos. Curioso, não é?”

[Fotografia: Divulgação]
Em Não há Vidas Perfeitas, a atriz desfia um longo processo de divórcio cuja primeira decisão chegou aos 40 anos, mas só foi consumada cinco anos depois, após muita ponderação e resistência. “A decisão foi tomada por mim, por razões que me assistiam apenas a mim. Ao longo desses cinco anos, houve inúmeras conversas e tentativas de resolução. Infrutíferas, obviamente. Quando a decisão é unilateral, como era o caso, há sempre um lado que, evidentemente, não acolhe bem a decisão”, descreve. E detalha: “No início desse período de cinco anos, desde que tomei a decisão até que me divorciei, ainda houve aquilo a que se costuma chamar ‘paz podre’. A partir de certa altura, já nem isso era possível, porque, quando as relações se começam a desgastar e quando há uma disparidade muito grande de perspetivas sobre a própria relação, passa a ser impossível uma paz, mesmo que podre. As duas pessoas começam a ficar alteradas, diferentes. Era assim que estávamos os dois. Não digo que fôssemos estranhos a viver na mesma casa, isso não (…) Mas a partir do momento em que tomei a decisão, que a dei a conhecer ao então meu marido e essa resolução foi mal recebida, a convivência tornou-se difícil. Como é natural que aconteça.”

“Sem pressa, no meu tempo, vou tentar voltar a ser feliz”

E se o processo de separação foi ‘traumático’, a confrontação com o divórcio, que define como “uma conquista” não foi melhor. “Estava convencida que iria resolver tudo, mas não foi isso que aconteceu. Parece que só as coisas e as pessoas é que mudam de lugar, os problemas persistem, crescem. É uma dupla frustração, um sentimento de impotência estranho”, analisa.

“A relação marido e mulher acaba com o divórcio, mas a relação entre duas pessoas que outrora se uniram continua porque há filhos. As pessoas separam-se fisicamente, passam a viver distantes e em casas separadas, mas os problemas mantêm-se e aparecem outros”, desabafa.

Uma rutura que a deixou “diferente”. “Não consigo imaginar-me com uma vivência igual àquela que tive. Ou seja, nos mesmos moldes, com a mesma dinâmica familiar. No entanto, isso não me causa ansiedade, não tenho urgência em reconstruir nada. Estou bem assim. Tenho uma família fantástica e uns filhos maravilhosos, que são um sonho e que me fazem sentir realizada e feliz enquanto mãe e chefe de família. Por isso, sem pressa, no meu tempo, vou tentar voltar a ser feliz”.

A perda de Pedro Lima, o cancro e o batismo

O novo livro traz à luz os tempos da infância, a ascensão na moda, a luta contra o cancro, a maternidade e a necessidade de cuidar da saúde mental após a perda súbita do amigo e ator Pedro Lima. “Desde que sou mãe, acho que me tornei mais realista. Logo que o Santiago nasceu, fiquei preocupada com uma data de coisas em que antes nem sequer pensava. De repente, ter um filho fez-me ter medo de uma série de coisas. Não sei se era depressão pós-parto. Não sei. Nunca tive tempo para parar e pensar se estava deprimida”, revela.

O choque com a perda do amigo Pedro Lima, que se suicidou a 20 de junho de 2020, fez Fernanda olhar para saúde mental com outros olhos e para si própria. “A morte desta pessoa maravilhosa despertou em mim a necessidade de começar a encarar as frustrações e as angústias que carrego. [Com a partida de Pedro Lima], fiquei mais desperta para saúde mental – a minha e a dos outros -. (…) lentamente comecei a tratar do meu saco vermelho (onde a atriz diz recolher todos os seus problemas para olhar com mais calma depois). Ainda não está como eu quero, mas está a ser tratado ao meu ritmo porque não acredito em curas milagrosas”, destaca.

A luta contra o cancro da mama também é contemplada nesta obra, mesmo tendo já abordado esta batalha num livro anterior. A atriz diz mesmo que a doença a “transformou como pessoa”. “Também me fez crer que não estamos sozinhos. Não posso dizer que era uma pessoa religiosa. Não tive educação religiosa, não fui à catequese quando era pequena, não fiz a primeira comunhão, não cumpro a obrigação mínima de ir à missa ao domingo, Mas aos 35 anos, já com três filhos, decidi batizar-me. Aliás, fomos todos batizados no mesmo dia, eu, o Santiago, a Laura, a Maria Luísa, que tinha apenas dois meses, e duas primas”, relata, acrescentando: “Ter cancro fez-me valorizar muito a rotina. De repente, perante a doença, essa rotina estava em risco, por isso, percebi o quanto ela era tão valiosa para mim.”

“No futuro, além de continuar a ser atriz, quero ser gestora agrícola”

Em Não Há Vidas Perfeitas, Fernanda Serrano antecipa os planos que ainda quer cumprir. “Estou entusiasmada com a ideia de estudar Agronomia”, revela. “Pondero, lá mais para a frente, quando os meus filhos estiveram nas suas vidas, comprar uma propriedade no Alentejo e geri-la. No futuro, além de continuar a ser atriz, quero ser gestora agrícola. A produção de azeite e vinho são coisas que também me fascinam”, anuncia.

[Fotografia: Captura de ecrã/Instagram/Fernanda Serrano]
Um projeto que corre a par de trazer novos projetos para representação, trabalhar no estrangeiro e dar a cara por causas solidárias, como começou agora com a “Crescer Bem, insituitção que apoia crianças de famílias carenciadas, com necessidades específicas”, no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa.