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Redescobrir a sexualidade depois do cancro é possível

Na galeria que se segue são explicados os fatores que impedem as mulheres nesta situação de desfrutar da sua sexualidade e algumas das medidas que podem ajudar a melhorar a sua saúde, também nesse campo. [Fotografia: Shutterstock]
Segundo o relatório 'The Global Status of mBC Decade Report 2005-2015", produzido com o apoio da Escola Europeia de Oncologia e que incide no impacto do cancro da mama na esfera íntima da mulher, os novos casos de cancro da mama encontram-se sobretudo entre os 45 e os 49 anos, ainda numa fase da vida em que a atividade sexual tende a ser ativa. [Fotografia: Shutterstock]
No caso do cancro da mama metastático, apesar de não ter cura, tem uma média de sobrevida de 2 a 3 anos. os especialistas defendem, por isso, uma abordagem psicossocial e interdisciplinar, que tenha em conta o impacto físico e emocional da doença na vida diária das doentes, incluindo a sua vida sexual. [Fotografia: Shutterstock]
Os efeitos secundários dos tratamentos, como a queda de cabelo, as alterações no peso e até a nova imagem corporal causada pelas mastectomias a que, muitas vezes, as mulheres são sujeitas, causam-lhes considerável baixa auto-estima, dificultando ainda mais a vivência da sua sexualidade. [Fotografia: Shutterstock]
Depois de feito o diagnóstico, muitas mulheres sentem que perdem parte da sua feminilidade, sentem-se pouco atraentes e envergonhadas com o próprio corpo. [Fotografia: Shutterstock]
A disfunção sexual, angústia, ansiedade e sensação de fadiga constante são sintomas associados à doença que prejudicam a vida do casal. Apoio e compreensão são fundamentais para ultrapassar os piores momentos. [Fotografia: Shutterstock]
O impacto estético, como a mastectomia, por exemplo, só consegue ser superado, se as mulheres estiverem "emocionalmente fortes", se se conseguirem “relacionar com o seu companheiro de forma muito próxima” e se existir “grande compreensão e apoio”, refere Gabriela Sousa, Presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia. [Fotografia: Shutterstock]
A especialista refere que “a reconstrução mamária é um passo importante na recuperação da autoestima e na superação da mutilação resultante da mastectomia”, mas ressalva que é fundamental tanto a doente, como o companheiro ou companheira, serem envolvidos e esclarecidos desde o início no processo, que pode ser moroso. [Fotografia: Shutterstock]
Gabriela Sousa lembra que as unidades de tratamento do cancro da mama têm-se ajustado a novas exigências e têm em funcionamento consultas de onco-sexologia e psico-oncologia, que podem representar uma ajuda importante, não só às mulheres submetidas a mastectomias, como ao casal. Por outro lado, a combinação da fisiatria, psiquiatria, neurologia, enfermagem, exercício físico e nutrição adaptados às condições de cada doente, assim como o retomar da vida social podem contribuir para que a mulher se interesse de novo pelo amor e pela sexualidade. [Fotografia: Shutterstock]
O papel dos parceiros é fundamental para as mulheres voltarem a ganhar gosto pela vida e conseguirem aproveitar da melhor forma os anos que lhes restam. Mostrar disponibilidade, compreensão, falar sobre o assunto e procurar ajuda especializada são fatores importantes, num contexto em que é frequente o divórcio de casais que passam por esse processo. [Fotografia: Shutterstock]

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Quando se fala em sexo, ou sexualidade, o tema é quase sempre associado a pessoas saudáveis e jovens. De fora ficam pessoas que já não estejam em idade fértil, idosos ou doentes, como se este fosse um aspeto da vida que já não lhes assistisse. Em 2013, a Direção-Geral da Saúde quis aproveitar o Dia Mundial da Saúde Sexual, que se assinala anualmente a 4 de setembro, para lembrar que a sexualidade é um direito de todos. E é nesse sentido que a oncologia moderna também trabalha. Gabriela Sousa, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia, explica em entrevista ao Delas.pt a importância da interdisciplinaridade, na saúde, para a recuperação das mulheres com cancro da mama e das mulheres com cancro da mama metastático, em particular no que se refere à sua vida sexual. A médica especialista realça a importância de se usarem diferentes disciplinas da área da saúde física e emocional para reduzir os efeitos secundários dos tratamentos. Mas a presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia sublinha que a compreensão e o apoio dos companheiros são outro aspeto fundamental para a recuperação da autoestima destas mulheres e redescoberta da sua sensualidade.

Quais são as consequências emocionais que cada forma de tratamento tem na mulher com esse problema de saúde e qual a mais impactante do ponto de vista da vida sexual?Uma doente que inicia tratamento qualquer que seja, e que sabe que não a vai curar, desde logo fica menos disponível e emocionalmente mais frágil para viver a sua sexualidade. Vive uma fase da doença que lhe coloca a vida em risco! A rede social é fundamental nesta fase: a compreensão e a ajuda do seu núcleo familiar e amigos, sobretudo de quem com ela partilha a vida. Relativamente aos tratamentos, quer seja quimioterapia quer seja a hormonoterapia ou mesmo outros tratamentos médicos, claro que também terão impacto na sua vida, quer por modificação do seu aspeto visual (perda de cabelo, alterações do peso, alterações das unhas); quer por alteração do seu desempenho (estado nauseoso, fadiga, alterações da memória); quer por restrições à sua vivência social (sair com os amigos) quer por ação direta na libido. Apesar destes efeitos se sentirem de forma mais exuberante durante a quimioterapia, a duração deste tratamento é mais fugaz, enquanto outras formas de tratamento, nomeadamente o tratamento hormonal em que os efeitos na vida sexual também são significativos, o tratamento poderá ser significativamente mais longo.

Como é que as mulheres podem superar o impacto, sobretudo o estético, quando são submetidas a mastectomias?
Acho que só poderão superar o impacto estético se emocionalmente estiverem fortes e se consigam relacionar com o seu companheiro de forma muito próxima, existindo grande compreensão e apoio.

Apesar da queda do cabelo e das alterações de peso, as mastectomias são talvez a consequência mais brutal, porque são uma espécie amputação. Qual é a importância da reconstrução mamária para a sexualidade da mulher que passa por isto?
A reconstrução mamária é um passo importante na recuperação da autoestima e na superação da mutilação resultante da mastectomia, mas é importante que desde o inicio de todo o processo a doente e o seu companheiro sejam envolvidos e esclarecidos do que podem esperar e por vezes da morosidade de todo o processo.

Quem não faz ou não pode fazer essa reconstrução, como pode superar essa situação e desfrutar da sua sexualidade?
Como já referido, através de uma relação sempre muito amiga e de grande entrega entre os pares. Hoje, cada vez mais as instituições que prestam cuidados aos doentes oncológicos, e sobretudo as unidades de tratamento do cancro da mama se têm ajustado a novas exigências e têm em funcionamento consultas de onco-sexologia. As unidades de psico-oncologia também podem dar uma importante ajuda ao casal e às mulheres que tiverem dificuldade em superar o impacto da mastectomia.

Além da questão estética, referem os sintomas físicos que condicionam a vida da mulher que passa por essa doença como a disfunção sexual e a sensação de fadiga, que levam a ansiedade e angústia. Nestas situações, o que é que se pode fazer?
Pode tentar-se estabelecer com a doente novas formas de interesse pela vida, com a descoberta de pequenas coisas que a ajudem a sentir-se feliz e com este sentimento redescoberto despertá-la de novo para se deixar amar. Nesta tarefa é fundamental mais uma vez a existência de profissionais de outras áreas que possam ajudar a alterar este ciclo: fisiatria, psicologia, psiquiatria, neurologia, enfermagem, técnicos em exercício físico adaptado às condições de cada doente, nutricionistas, entre outros. Claro que mais uma vez o apoio da família e amigos é fundamental. E é importante que a doente pense que esta é uma fase e que irá melhorar…


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Como se pode ajudar as mulheres com cancro da mama metastático a recuperarem a sua vida sexual?
Desde logo falando do assunto. Este é um tema que muitas vezes não é abordado por falta de respostas. Os profissionais devem estar preparados para o fazer e as instituições devem estar capacitadas com os diversos recursos técnicos e humanos para melhorar a vida de quem precisa.

O que é exatamente o cancro da mama metastático?
O cancro da mama metastático significa que existe doença noutros órgãos para além da mama. Podemos considerar 3 grandes fases na evolução do cancro da mama: o cancro precoce, que tem elevada probabilidade de cura; o cancro localmente avançado, geralmente com metastização ganglionar e que o tratamento para ser curativo é mais agressivo, geralmente combinando a quimioterapia, com a radioterapia, a cirurgia e tratamento hormonal e finalmente o cancro da mama metastizado, que pode existir desde o inicio da doença (e será o Estadio IV), ou pode metastizar após algum tempo decorrido desde o tratamento da doença inicial.

Quais são as formas de tratamento nesta fase da doença?
O tratamento do cancro da mama metastizado não tem intenção curativa. O objetivo do tratamento é permitir que o organismo “conviva” bem com o tumor. Ou seja, controlar a doença, no sentido de reduzir os sintomas que pode provocar e melhorar a qualidade de vida da doente. Claro que ao tentarmos controlar a doença pretendemos dar mais vida à doente e assim, aumentar o tempo de vida. Hoje existem diferentes formas de tratar o cancro da mama metastizado, sendo extremamente importante a abordagem multidisciplinar. Relativamente ao tratamento com medicamentos têm-se registado uma enorme evolução na tentativa de aumentar a sua eficácia ao mesmo tempo que se tenta reduzir os efeitos secundários associados. A investigação tem permitido identificar novos fármacos com capacidade de serem dada vez mais dirigidos a alterações especificas das células tumorais reduzindo assim o dano que provocam nos tecidos saudáveis. O tratamento do cancro da mama metastizado inclui para além do tratamento médico com quimioterapia clássica, tratamento hormonal, fármacos anti-HER2, inibidores m-TOR, inibidores das CDK, tratamento dirigido à metastização óssea, quando está presente, mas também novas formas de radioterapia, e mesmo algumas modalidades de tratamento cirúrgico e/ou radiocirurgia, ou mesmo técnicas de radiologia de intervenção (termoablação, radiofrequência, e outras). O mais importante e que tem revelado impacto na sobrevivência desta doença é que as decisões de tratamento sejam tomadas por equipas multidisciplinares. A oncologia moderna é uma área de interdisciplinaridade.

O que devem os parceiros, ou parceiras, fazer para ajudar?
Mostrarem a sua disponibilidade, compreensão, contribuindo para falar sobre o assunto e procurarem ajuda especializada, caso assim o entendam em conjunto. Na prática clínica diária é muito frequente o divórcio de casais que passam por este processo. E porque o cancro é uma doença que envolve a família, é muito importante que desde logo o parceiro/parceira se envolva e saiba o que pode esperar e como pode fazer para ajudar, de acordo com toda a equipa que está envolvida no tratamento.

Imagens: Shutterstock