Assédio: uma em cada duas europeias já passou por isto!

Nos Estados Unidos da América, a indústria do cinema e da televisão vive um dos maiores dramas de sempre, com as incontáveis denúncias de assédio sexual. Revelações que estão a pôr toda uma sociedade em causa. A #metoo veio dar voz a muitas mulheres que, por estarem numa desvantajosa situação de poder, foram as presas fáceis. E, afinal, não era só nos filmes que isto estava a acontecer, o caso já chegou a política, à moda e prepara-se para ir para as ruas, sob a forma de protesto.

Na Europa, há também vozes que se começam a fazer ouvir. Não tão ruidosas como as que chegam do outro lado do Atlântico, mas nada indica que o velho continente se porta melhor. Não, muito pelo contrário


Aprenda a detetar comportamentos suspeitos antes de ser vítima de assédio sexual


Aliás, o estudo Violência contra as Mulheres – Um olhar europeu, de 2014, levado a cabo pela Agência dos Direitos Fundamentais de União Europeia, poderá ter de levar qualquer europeu a pensar a sério nesta realidade. Reunidos os testemunhos de 42 mil mulheres, de 28 estados-membros (Portugal incluído), prenunciam problemas a sério. E casos dramáticos.

Uma em cada duas mulheres que vive na Europa diz ter sido vítima de assédio, sendo que uma em cada cinco tinha sido alvo em apenas 12 meses, o tempo de duração do estudo coordenado por Joanna Goodey.


Sara Sampaio: Fui forçada a fazer coisas que não queria

Cindy Crawford já alertou a filha para esta problemática do assédio


Mas há muito mais e realmente preocupante. Na galeria acima, fique a conhecer 17 das principais conclusões desta investigação em torno da agressão sobre as mulheres – do assédio, à violação, passando pela violência doméstica – e onde fica claro que o número de denúncias às autoridades está longe de acompanhar o número de queixas que o sexo feminino reporta.

No mapa abaixo, veja o número de queixas de assédio sexual reportadas pelas mulheres.

Mapa extraído do estudo “Violência contra as Mulheres – Um olhar europeu”

Norte da Europa mais igualitário, mas com mais queixas por parte das inquiridas?

Neste estudo, foram consideradas 11 formas de assédio sexual: desde o contacto indesejado até obrigação de ver pornografia ou de ser importunada através das redes sociais. Pelo meio, foram contempladas possibilidades como comentários e piadas sugestivas, convites indesejados, questões intrusivas ou mesmo perguntas indiscretas sobre a vida privada ou comentários ostensivos sobre aparência física, observação e perseguição. Estão também contemplados comportamentos como o envio ou exibição de imagens sexualmente explícitas, fotos ou gifs, exposição agressiva por parte do autor do assédio e mensagens indesejadas.

Curiosamente, e olhando para o mapa, as mulheres do norte da Europa – região conhecida pela maior igualdade de género – reportaram mais casos de assédio. Contradição? A autora nega isso mesmo à Deutsche Welle. Em entrevista a este órgão de comunicação alemão, Goodey explica que tal se deve ao facto de “em alguns estados-membros, é pouco expectável que as mulheres falem de violência sexual ou assédio“. Ou seja, os países que estão mais alerta para esta problemática são precisamente os que chegaram primeiro a estas discussões de género e violência. Logo, as mulheres denunciam mais.


Leia mais sobre o que se está a passar nos EUA aqui e aqui


Aliás, o próprio estudo indica que a variação entre os registos dos países do Norte e do Sul se justificam por três razões: “a prevalência do crime”, “as diferenças culturais” e ” as diferenças de país para país em matéria de denúncia”. O enquadramento legal também enforma os comportamentos que as mulheres acabam por ter quando confrontadas com situações de assédio.

Portugal: pouco assédio ou muito silêncio?

Olhando de novo para a imagem, Portugal parece estar entre os países que registam menos assédios. Será mesmo verdade ou as mulheres ainda estão longe de contar tudo?

Para lá do questionário de 11 formas de assédio, havia um mais curto – apenas com seis – e que excluía os convites indesejados, as perguntas privadas e intrusivas, os comentários à aparência ou até vários níveis de observação por parte do agressor. Portugal, quando comparados os dois questionários, surge em quatro lugar… a contar do fim. Abaixo de si, só a Polónia, Roménia e Bulgária.


Número de queixas por perseguição têm vindo a aumentar em Portugal


Se a pergunta disser apenas respeito a toques, beijos ou abraços indesejados, Portugal é mesmo o último do lista, com menos inquiridas a reportar casos de assédio desta dimensão. Se o caso for o comportamento agressivo por via da internet, é o terceiro país dos 28 com menos mulheres a denunciar este tipo de agressão.

O que fazer?

Para os autores do estudo, há várias possibilidades. “Alargar o tipo de situações que são consideradas assédio – perseguição, abuso por via das novas tecnologias e redes sociais – e contemplá-las na lei“, é um dos passos. Ao mesmo tempo, o coletivo de investigadores sugere “criar mais medidas para proteger quem denuncia“.

“Os Estados-membros devem ser encorajados a definir planos regionais de ação relativos à violência sobre as mulheres” e “devem reunir estatísticas com a máxima regularidade possível“, recomenda ainda o estudo.