Como ajudar os seus filhos a lidar com a incerteza

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Sabemos que a pandemia causada pela Covid-19 trouxe ao de cima um clima de incerteza e luta por um ‘inimigo invisível‘. Rotinas que mudam, crianças sem escola, quarentenas imprevistas… se já para os adultos não é fácil lidar com tudo isto, para as crianças também não o é. E nem sempre é fácil explicar-lhes o que se passa.

O Delas.pt já tinha reunido algumas sugestões de como explicar, por exemplo, o que é um vírus de forma didática. Sabemos também que existem alguns mecanismos para conseguir dar resposta até às perguntas mais difíceis dos mais novos, até mesmo quando o assunto é a morte.

Num clima de constantes incertezas e desafios, como preparar os nossos filhos para lidar com aquilo que não se consegue controlar?

Não é fácil, mas é fazível. Estudos recentes mostram, por exemplo, que as pessoas geralmente se sentem mais stressadas quando estão a lidar com a possibilidade de algo mau acontecer do que com a certeza de que vai mesmo acontecer. Existem já ligações científicas comprovadas de que o Novo Coronavírus tem uma relação clara com várias questões de ansiedade e depressão atuais.

Mas se pensa que a habilidade de gerir a incerteza é algo que não se pode aprender, desengane-se, tal como a inteligência emocional também pode ser aprendida e trabalhada. Vários especialistas contaram ao Huffpost alguns truques simples que os pais podem usar para ajudar os seus filhos a navegar na incerteza em que vivemos, bem como para prepará-los para uma vida de momentos desconhecidos.

Comece por explicar o que é a incerteza e o que nos faz sentir

Um dos primeiros passos que os especialistas defendem como sendo uma mais-valia para o desenvolvimento da inteligência emocional dos mais novos é ensinando-lhes a identificar os seus sentimentos. As crianças precisam, antes de mais, de entender as suas emoções e de lhes dar um novo: medo, raiva, felicidade, tristeza.

“Tudo começa ao ajudar as crianças a construir a sua própria linguagem para as suas experiências emocionais”, explicou Kelly Moore, psicóloga, ao mesmo meio de comunicação. Frequentemente, isso significa ajudá-los a identificar o que está a acontecer com os seus corpos (já que as emoções fortes tendem a produzir reações físicas, como coração acelerado, suor ou muitas perguntas a passar pela cabeça), afirmou a especialista.

Para adolescentes, por exemplo, a incerteza pode despoletar antes comportamentos mais agressivos, problemas de concentração ou esquecimento constante de coisas importantes. Há que estar atento a estes sinais e ajudá-los a saber exatamente o que estão a sentir e porquê.

Seja honesta sobre as suas próprias limitações

Os pais têm um “impulso compreensível” de querer sempre proteger os seus filhos do stress e da incerteza, mas os especialistas alertam para alguns comportamentos que podem acabar por ser prejudiciais, tais como inventar respostas ou fornecer falsas garantias. Em vez disso, opte por admitir que não sabe a resposta ou que não sabe o que vai acontecer.

“Os pais podem e devem ser honestos com os seus filhos, sem a necessidade de fornecer informações falsas”, afirmou ao Huffpost Steven Meyers, professor de psicologia da Universidade Roosevelt. No entanto, pode sempre falar sobre resultados possíveis ou prováveis, ainda que admita que não tem certezas, acrescentou o psicólogo.

É importante que tente proteger o seu filho, sem que para isso lhe esconda totalmente que a incerteza é algo que acontece e que é natural. Até porque ao escondermos esta realidade, faremos também com que, posteriormente, as crianças cresçam sem aprender a lidar com aquilo que não conhecem ou não sabem. Mostre que apesar de não saber o que vai acontecer, vai estar sempre presente para apoiar em qualquer situação.

Esteja calma

Sabemos que os filhos acabam por ser, muitas vezes, o nosso reflexo. Por isso, é importante que nós mesmos demos o exemplo e mostremos que também estamos a lidar com a incerteza. É importante que nos acalmemos, mesmo quando achamos que os nossos filhos não nos estão a ver ou ouvir.

“Uma explicação mais equilibrada e honesta por parte dos pais permite que os filhos giram melhor os seus próprios sentimentos em relação a notícias e informações angustiantes”, repetiu o mesmo especialista. No entanto, não confunda o estar calma com o esconder a situação: há que encontrar um equilíbrio entre falar abertamente sobre o tema e não mostrar que está demasiado ansiosa com a situação.

Identifique atividades que mantenham a calma

Especialmente após a quarentena de março, muitas pessoas acabaram por descobrir formas de se acalmarem e relaxarem em tempos incertos. Seja pela prática de atividades físicas, cozinhar, pintar, meditar, ouvir música, várias foram as ferramentas arranjadas para lidar com a situação.

Em relação aos mais novos, é também importante perceber que tipo de atividades vão ajudar a que consigam lidar com a frustração de uma forma mais saudável. Ajude o seu filho a encontrar essa atividade!

Crie uma estrutura de estabilidade e rotina

“É muito importante criar alguma previsibilidade e rotina em casa”, afirmou ainda Kelly Moore. Na medida do possível, siga sempre uma rotina específica sobre a hora de dormir, aconselhou a psicóloga.

A ideia é, entre a incerteza e a instabilidade, dar algum apoio mais fixo, fazendo com que os mais novos sintam que estão enraizados a algum sítio seguro. Desta forma, conseguiram lidar melhor com tudo o resto à volta, que é uma incógnita.