PortugalFashion arranca com novas abordagens dos criadores nacionais

A 42ª. edição do Portugal Fashion começou este sábado, 17 de março, com as propostas de sete marcas nacionais para o próximo outono-inverno. E foram muitas novidades levadas pelos designers portugueses ao Terminal de Cruzeiros de Lisboa – a primeira paragem do evento, que a partir de dia 22 assenta arraiais no Parque da Cidade do Porto.

Storytailors, Alexandra Moura, Susana Bettencourt, Pedro Pedro, Alves/Gonçalves, Carlos Gil e TM Collection by Teresa Martins foram os nomes que desfilaram no dia inaugural do Portugal Fashion, que ficou marcado não só por se tratar de novas coleções, mas pelas novidades na linha seguida por alguns criadores.

Se na coleção de 2017, Alexandra Moura se inspirou nas conquistas portuguesas e nos choques culturais, patentes no contraste “entre a faustosa Europa” da época e os “tradicionais trajes do sudeste asiático”, desta vez a designer mergulhou no seu próprio passado, inspirando-se nas memórias de infância e de adolescência. Imagens do ambiente e da natureza com que cresceu cruzam-se com referências coletivas da cultura pop da década de 1980, como os filmes de ‘Blade Runner’ e ‘E.T.’ e as músicas de Jesus and Mary Chain ou The Smiths, ao som dos quais terminou o desfile. Nos coordenados, essas evocações traduzem-se em padrões gráficos e estampados de recortes e imagens que remetem para aquelas referências, e noutros mais melancólicos, como os florais utilizados nos vestidos. Os tons elétricos e o efeito plastificado do calçado completam esse imaginário, que se materializa em tules delicados, lycra e cetim estampados, jacquard, algodão e lã, com destaque para o tartan. Através destes materiais, Alexandra Moura procura estabelecer uma ponte entre o clássico e o contemporâneo, da mesma forma que os trench-coats e vestidos oversized fazem a ligação às suas coleções anteriores e à sua imagem de marca. Outra repetição é a colaboração, pela terceira vez, com a marca portuguesa Duffy, nos blusões puffer e nos acessórios.

Quem também mostrou uma mudança na linha criativa, com a nova coleção, foi Pedro Pedro. Tal como já tínhamos testemunhado em Milão, o designer arriscou numa mudança de estilo nas novas propostas rompendo com o seu tradicional “casual sportswear”, apresentando peças com cortes mais sóbrios, formais e elegantes. Coordenados fluidos e “oversize”, alongando as silhuetas e a opção por tons como o camel, o preto e o branco, o azul ganga ou os verdes e laranjas em estampados evidenciam um conjunto de propostas orientado para uma visão “workwear” e uma mulher mais adulta e confiante. Para esta coleção, o designer privilegiou materiais como o algodão, as sarjas, as lãs e os impermeáveis.

Tal como Alexandra Moura, Susana Bettencourt também recuou até aos anos de 1980, aos primórdios dos jogos de vídeo e ao início do fim dos jogos de rua e do contacto real. Como uma espécie de manifesto anti-robotização, a nova coleção da designer expressa-se em texturas e fios únicos criados em parceria com a Fifitex. Bombazine, malha grossa tricotada e volumes criados com fitas de malhas e franzidos são alguns dos destaques das propostas apresentadas que mantêm a assinatura da designer, sobretudo, nos jacquards de padrões fortes.

Com alguns coordenados de transição para a coleção de inverno anterior – onde os tons lilases, rosas e alaranjados continuam a marcar presença – as novas propostas de Carlos Gil para a próxima estação fria também trouxeram muitas novidades. Naquele que foi o penúltimo desfile do primeiro dia do Portugal Fashion e um dos mais ricos em cores, materiais e número de coordenados apresentados. Como a cidade que nunca dorme, a coleção do designer abarca as 24 horas do dia da mulher citadina, criando looks para todas os dias e todas as horas. Uma coleção sofisticada e elegante, e ao mesmo tempo confortável e urbana, como mostram os blusões e coletes mais sportswear. Mas há também detalhes, como as golas e os punhos de pelo, as lantejoulas coloridas e as leggings que prendem no pé ou os coordenados metalizados retro futuristas que remetem para o ambiente disco e para as décadas de 1970 e 1980. Percorrendo a multiplicidade de cenários e cores das 24 horas na cidade, Carlos Gil procurou equilibrar os tons frios e quentes, oferecendo uma paleta diversificada. Nos padrões, destacam-se as riscas verticais, inspiradas nos rastros das luzes, que conferem dinâmica à silhueta com o movimento do corpo.

Variada, urbana e transgressora dos códigos clássicos, a nova coleção de Alves/Gonçalves colhe inspiração em campos variados, fluindo-se estes no conjunto. As propostas apresentadas, já ao cair da noite, passam pelo vestuário motard – patente nos materiais, no corte dos blusões curtos, e em pormenores como as franjas de algumas peças – estendendo-se ao urbano e sportswear – visível em acessórios, como os sacos de treino, os gorros, as calças desportivas ou peças em tecidos mais leves e impermeáveis. Sem esquecer a elegância feminina, com destaque para as plissagens nos vestidos compridos, que reforçam o alongar da silhueta, os arrendados ou detalhes em folhos. Nos padrões, os estampados de desenhos de tigres trazem um colorido estival às propostas da dupla para a próxima estação fria.

O primeiro dia da 42ª. Edição do Portugal Fashion começou e terminou com fashion performances. Os Storytailors, que abriram os desfiles ao início da tarde, dispuseram alguns dos coordenados em cabides, que formavam um círculo no centro da “passerelle”. Os manequins, à medida que iam terminando o seu desfile ocupavam o lugar junto de um cabide, despindo-se e vestindo-se ali mesmo. O conceito permitiu mostrar uma coleção feita de peças divisíveis, com os fechos a ocuparem um papel funcional e estético nos coordenados, criando peças reversíveis e combináveis entre si. A dupla de designers utilizou materiais como o neoprene, as fazendas, os jerseys metalizados ou a ganga, privilegiando nos tons o branco, o preto, o vermelho, o dourado e o prateado.

O último desfile, que coube a Teresa Martins, através da sua TM Collection, foi apresentado com uma coreografia, que recreou, através da dança, a estética subjacente ao desfile, inspirado na natureza e na floresta. Na coleção, propriamente dita, ela fez-se notar, na sobreposição de texturas e materiais – da seda à lã de iaque, passando pelos algodões acolchoados –, nos tons terra e castanhos, nos verdes e azuis e nos acessórios de feltro recortados em forma de folha, adornando os cabelos e colo. O desfile dividiu-se em duas partes, servindo a primeira para apresentar os coordenados feitos de materiais mais duros, e a segunda os de tecidos mais leves, destacando-se nesta os vestidos e as sedas.

O Portugal Fashion ruma agora ao Porto, onde decorre de 22 a 24 de março, no Parque da Cidade.

Imagens: Ugo Camera/Portugal Fashion

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