Catarina Furtado: “Se nos calamos podemos atrasar tudo”

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No mesmo dia em que o Eursotat veio mostrar que os homens ainda ganham mais 17,8% do que as mulheres, em Portugal, e que, na Europa, os progressos rumo ao pagamento de valor igual por trabalho igual se mostram tímidos, Catarina Furtado, presidente da Associação Corações com Coroa, promoveu a conferência O Poder da Educação na Conquista da Igualdade.

“Em Portugal, [a igualdade] melhorou. Nos países em desenvolvimento melhorou em muitas áreas, mas está longe do que é desejável”, começou por justificar a apresentadora, à margem do debate e da entrega de prémios que a associação levou a cabo, na segunda-feira, 20 de novembro, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Catarina Furtado considerou que “é preciso olhar para estes dados com alguma esperança” uma vez que, “no que diz respeito à educação, que é o que nos traz aqui hoje [segunda, 20 de novembro], a educação primária e secundária aumentou grandemente”.


Presidente Marcelo Rebelo de Sousa esteve na conferência, na qual vincou que o período de crise agravou a violência, falou da ilusão de se voltar ao período antes dos cortes, lembrou que “quem demora muito tempo a perceber, reage sempre tarde” e ainda voltou a falar de otimismos: o realista e os outros, com os quais às vezes se irrita


A documentalista e rosto da RTP1 crê que, apesar de as “mulheres serem em maior número nas escolas, serem mais doutoradas, ainda há diferenças salariais” e que para atingir a igualdade em termos de rendimentos “é, infelizmente, uma questão de tempo”. Porém, até lá, o silêncio é o pior inimigo. “Não nos podemos calar, porque se nos calamos, podemos atrasar tudo. Não nos podemos cansar de falar, de exigir, de ensinar e de informar. É fundamental nesta matéria”, afirmou.

Eurostat: mais uma má notícia para a igualdade salarial

Cidadania, Síria, violação e transsexualidade reconhecidas

Sofia Pinto Coelho, com a reportagem Renegados, exibida na SIC, foi a vencedora deste prémio na categoria do jornalismo, trazendo para a esfera pública os problemas de discriminação na obtenção de cidadania portuguesa por parte de pessoas que nascerem, cresceram e até tiveram filhos em Portugal. Houve ainda espaço para a atribuição de três menções honrosas ex-aequo para Eu é Que Sou a Presidente da Junta, de Miriam Alves (SIC), Inshallah Síria, de Cristina Lai Men (TSF) e de Catarina Marques Rodrigues pela reportagem sobre violação no seio do casal (exibida na RTP) e sobre transsexualidade (Observador). Na categoria de Campanha, o prémio foi entregue à Associação de Mulheres Contra à Violência e à agência Krypton.

Dois desafios: a escolaridade e os rapazes e a participação dos alunos

Com as estatísticas a indicarem que ainda há muito caminho a trilhar rumo à igualdade e com as mulheres a estarem sistematicamente em segundo lugar, certo é que a realidade escolar há muito que mostra mudanças. Alterações que a socióloga Ana Nunes de Almeida quis trazer para a discussão.

No âmbito do debate Escola, Trabalho, Família e Cidadania: Diferenças no Feminino, a investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS – ULisboa) lembrou que “a massificação do acesso à escola trouxe uma surpresa porque, escrutinando os números e os indicadores, houve uma alteração radical da presença e das mulheres no sistema de ensino”.

No entanto, e com base nos dados, é sabido que são mais os rapazes portugueses, entre 18 e os 24 anos, que não completaram o secundário e não estavam a estudar, em 2016. Eles eram, segundo a Pordata/Eurostatm 17,4% face a 10,5% das raparigas. Por isso, Ana Paula Almeida vincou que é preciso “envolver os investigadores e os políticos nesta discussão em torno da escolaridade e os rapazes” porque “pouco ou nada se sabe sobre esta realidade e é preciso levar a participação dos alunos a sério”.

A investigadora lembrou também que o envolvimento de quem aprende na comunidade escolar deve ser maior. “Na escola, os alunos quase não têm voz, não estão presentes os conselhos pedagógicos, o que deve ser caso único. Eles não estão envolvidos na política escolar e educativa.” Só assim, concluiu, se pode falar de “igualdade de oportunidades na escola e de igualdade de género”.

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