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Coimbra abre curso inédito para profissionais que lidam com violência doméstica

Percorra a galeria e veja algumas das propostas que estão em consulta pública em matérias como a igualdade de género ou a paridade no local de trabalho, propostas no âmbito da violência doméstica e da orientação sexual e identidade de género [Fotografias: Shutterstock]
Medidas de apoio à igualdade homem e mulher
Atribuição de financiamentos de apoio à capacitação e constituição de empresas por mulheres, apoio técnico e financeiro de associações não governamentais de mulheres, a organizações da sociedade civil sem fins lucrativos e para ações de combate à discriminação. Financiamento de múltiplas políticas a ser atribuído pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, num montante global que, a quatro anos, pode chegar aos 40 milhões de euros.
Apoio ao desenvolvimento de projetos a nível local e regional que visem aumentar a participação cívica e política de mulheres e raparigas. Uma proposta inserida no âmbito do Índice Mulher/Homem na Administração Pública, que tem como meta 31 de julho de 2019. Um projeto com 600 mil euros alocados.
Criar, até ao fim deste ano, um Conselho Nacional para a Igualdade e para a Não Discriminação. Não há orçamento previsto para esta proposta.
110 mil euros para, até fim de 2019, concretizar e editar o Livro Branco tendo em vista a elaboração da lei da Não Discriminação.
O Orçamento do Estado e os Jogos Sociais deverão suportar - em verba a designar - a elaboração de documentário e seminário em torno da informação e sensibilização contra a discriminação intersecional. O prazo é de 31 dezembro de 2018.
Igualdade no local de trabalho
Combater a segregação sexual nas profissões passando pelas profissões na atividade do Instituto de Emprego e Formação Profissional, dos Centros de Emprego e dos Centros de Formação Profissional.
Desenvolvimento de projetos que combatam a segregação sexual na contratação. A medida tem como horizonte 31 dezembro, com um valor de 350 mil euros.
Eliminar disparidades salariais entre homens e mulheres. Previsão de 110 mil euros para a elaboração do livro branco, a publicar até 31 de dezembro de 2020. Até ao fim de este ano, há 150 mil euros para a publicação do estudo de boas práticas contra a disparidade salarial na Islândia.
Publicação, até dezembro de 2020, do estudo sobre os efeitos da maternidade nos rendimentos presentes e futuros. Com uma verba acocada de 110 mil euros. Também para a mesma data e com um orçamento de 110 mil euros, está prevista a abertura concurso para a elaboração do livro branco para o trabalho doméstico remunerado.
700 mil euros para a disseminação da aplicação de sistemas de avaliação não enviesados de postos de trabalho pelos setores.
Garantir uma educação livre de estereótipos. Há 350 mil euros a atribuir, até 31 de dezembro de 2019, a projetos que incentivem a participação de rapazes e raparigas nas áreas profissionais segregadas por sexo, designadamente as tecnologias de informação.
Medidas no âmbito da Violência Doméstica
300 mil euros para atribuir em concurso a lançar até ao final deste ano para iniciativas de prevenção e estratégias de apoio a crianças e jovens em matéria de violência contra as mulheres ou violência doméstica.
Distritos e municípios devem criar respostas de acolhimento de emergência à violência doméstica. Cerca de 10 milhões de euros até ao final de 2021.
700 mil euros anuais (até 2021) para autonomização das vítimas de violência doméstica.
Até maio deste ano, prevê-se a celebração do protocolo entre a CIG, o Ministério da Justiça, a Ordem dos Advogados no sentido de revisão dos procedimentos e uniformização legal dos serviços de informação jurídica.
Consolidar, ampliar e avaliar a intervenção junto de agressores. Há múltiplas medidas neste âmbito previstas na consulta pública
Um milhão e 130 mil euros para, até 2020, reforçar a fiscalização em matéria de vigilância eletrónica.
Qualificar magistrados e outros profissionais da área da justiça para as questões da violência doméstica, com a celebração de protocolos com o Conselho Superior de Magistratura até 31 de dezembro deste ano.
Criação de uma norma de orientação clínica sobre a abordagem das vítimas de violência doméstica. Até 31 de dezembro de 2019.
Práticas nefastas contra as mulheres
Até fevereiro de 2019, elaborar um relatório sobre todas as práticas nefastas - como, por exemplo, a mutilação genital feminina ou casamentos infantis e precoces - junto das comunidades em Portugal, da Lusofonia da União Europeia.
Promoção do envolvimento de crianças ciganas, particularmente meninas, em atividades de ensino e de combate ao abandono escolar. Ações que devem mobilizar 300 raparigas por ano, entre 2018 e 2020, inclusive.
Orientação sexual e identidade de género
120 mil euros para apoio de organizações que acompanhem estas matérias, até 2020.
40 pessoas formadas por ano - até 2021 - em entidades empregadoras, associações patronais e sindicais em questões de discriminação por via da orientação sexual.
Até 31 de dezembro de 2020 apresentar um portal de acesso simples e direto para rececionar queixas por discriminação em virtude da sua orientação sexual e identidade de género.
444 mil euros atribuídos - oriundos do Orçamento do Estado e dos Jogos Sociais, até 2021 - para respostas especializadas no combate a todas as formas de discriminação.
Publicar, até 31 de dezembro de 2021, um guia orientador para entidades empregadoras nesta matéria.
Formar 80 pessoas até 2019 em órgãos de polícia criminal para a investigação de crimes de ódio contra pessoas LGBTI
Integrar as questões de orientação sexual e identidade de género na Estratégia Turismo 2027.
Formar treinadores das diferentes modalidades para as questões relacionadas com a discriminação por via da orientação sexual.

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A Coimbra Business School vai avançar com um curso para preparar os juízes, procuradores, médicos, assistentes sociais e psicólogos a lidarem com o fenómeno da violência, sobretudo a doméstica. O curso surge como resposta ao número crescente de mulheres mortas na sequência desse tipo de agressões e da necessidade, manifestada dentro dos próprios setores profissionais, de sensibilizar e formar os profissionais que trabalham estas áreas para uma abordagem diferente e mais atenta à vítima.

“Uma média de quase três dezenas de mulheres assassinadas por ano é intolerável e não pode continuar. Isto não é compatível com um país que está na Europa e que pretende obter bons índices de desenvolvimento social”, disse à agência Lusa Pedro Costa, presidente daquele estabelecimento de ensino, pertencente ao Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra.

Segundo Pedro Costa, a falta de formação dos agentes que lidam com o fenómeno foi a motivação para a Coimbra Business School avançar com o “primeiro curso do género” em Portugal, embora o Centro de Estudos Judiciários tenha vindo a desenvolver ações pontuais de formação sobre violência doméstica, para os profissionais da Justiça.

O curso de Coimbra terá início no próximo mês de novembro, é coordenado pela professora Sónia Costa pelo Procurador-geral Distrital Filipe Preces Ferreira e foi desenvolvido em parceria com a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) e o apoio da Agência para a Prevenção do Trauma e da Violação dos Direitos Humanos (APTVDH).

“Centra-se na capacitação multidisciplinar qualificada para intervenções mais adequadas no combate à problemática da violência de género, da violência doméstica e outras violências (s), ajudando a refletir sobre estratégias de prevenção e intervenção em redes multidisciplinares e multissectoriais da sociedade”, refere a informação disponibilizada no site da instituição.

“Uma das maiores lacunas na resposta aos problemas suscitados pela violência doméstica e violência de género repousa, indubitavelmente, na formação e na capacitação de profissionais que são chamados a resolvê-los”, refere à Lusa, Sónia Costa, que integra o Conselho Científico da Agência para a Prevenção do Trauma e da Violação dos Direitos Humano.

Para a docente, especialista em ciências forenses, é “urgente ultrapassar em Portugal o défice formativo que se verifica nos profissionais – nomeadamente do Estado – que lidam com casos de violência, pois só assim poderemos melhorar os indicadores do país neste campo”.

Este ano já morreram 18 mulheres vítimas de violência doméstica, quase tantas como em todo o ano de 2017 (20 vítimas). Um dos casos mais recentes é de uma mulher de 48 anos, morta a tiro, no final de agosto, em Quiaios, Figueira da Foz, pelo marido de 52.

Também as queixas de violação estão a aumentar. Em 2017, a violação foi o crime que mais cresceu em Portugal, segundo os registos Relatório Anual de Segurança Interna (RASI). Foram feitas 408 denúncias deste crime, mais 73 que em 2016 e o valor mais alto, nos relatórios de segurança interna, desde 2010.

Ao DN, Rui Abrunhosa Gonçalves, especialista em psicologia forense e criminal, refere que as estatísticas podem não ser totalmente fiáveis, uma vez que muitas vítimas ainda optam por não denunciar os agressores. Por outro lado, e apesar de um aumento das denúncias, o psicólogo nota que “as vítimas não se sentem protegidas pelo sistema”. “O agressor pode ficar calado mas a vítima vai ter que responder a tudo, ao juiz, ao procurador, ao advogado. E o advogado de defesa vai tentar tudo para provar que a mulher é leviana, promíscua.”

A isso soma-se, sublinha, “um desfasamento muito grande entre o número de casos denunciados e as condenações com pena de prisão”.

“Quem trabalha no terreno verifica que muitos profissionais desvalorizam a violência contra as mulheres, numa atitude que assenta em ideias pré-concebidas de submissão natural das mulheres aos homens e na aceitação geral da impunidade destes. Todos somos responsáveis pelos processos de manutenção da violência e todos seremos igualmente responsáveis pelo processo de mudança e pela sua erradicação”, frisa Sónia Costa.

A investigadora acredita que “com uma qualificação mais adequada dos diferentes profissionais, muitos dos erros que se cometem podiam ser evitados”, contribuindo para reduzir o número de mortes relacionadas com este crime.

O presidente da Coimbra Business School mostra-se, por isso, convicto de que este curso “contribua para melhorar a prevenção e o combate à violência, sobretudo aquela que se abate sobre as mulheres”.

O curso, que conta ainda com o apoio da Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, terá uma duração de 164 horas, terminando em fevereiro de 2019. Há 40 vagas disponíveis, metade para para profissionais da administração pública e as outras 20 para a população em geral.

As inscrições para o curso terminam a 15 de setembro.

AT com Lusa

 

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